Thamires Pontes passou muito tempo no setor da moda para simplesmente sentar e ignorar seus problemas.
O designer têxtil, que passou pouco mais de uma década no setor têxtil, está completamente desiludido com os impactos negativos da produção industrial de tecidos e está desesperado para ajudar a encontrar alternativas para o status quo.
"Visitar fábricas na China foi uma loucura - elas são enormes e comecei a me sentir frustrada com o quanto o setor é poluente: muita água é usada, muitos produtos químicos", ela reflete.
"O setor da moda enfrenta desafios significativos, toda a cadeia de valor da moda é terrível, mas trabalhando com algas cultivadas podemos garantir nossa rastreabilidade e resolver o maior problema do setor da moda", acrescenta ela.
Uma inspiração improvável
Pontes começou a investigar o uso de algas marinhas em tecidos enquanto fazia seu mestrado em 2016. De forma um tanto surpreendente, ela foi inicialmente inspirada a pesquisar o uso de fibras orgânicas alternativas por um dos principais chefs do Brasil, Alex Atala, cuja gastronomia molecular incluía fazer espaguete com ingredientes como chocolate, em vez de trigo.
"Percebi que, se ele conseguia fazer algo que parecia fio com essas substâncias, então eu poderia fazer meu próprio fio com algo completamente diferente", lembra Pontes.
No decorrer de sua tese de mestrado, ela descobriu vários trabalhos acadêmicos que discutiam o uso de algas marinhas em tecidos. Utilizando essas descobertas em combinação com seu próprio conhecimento, Pontes começou a desenvolver seus primeiros produtos.
Essa abordagem divergiu da orientação inicial de seus professores, que argumentavam fortemente que as algas marrons, com seus altos níveis de alginatos, eram mais adequadas para fibras do que as variedades vermelhas que continham hidrocolóides. Mesmo assim, ela persistiu.
"O alginato no Brasil é muito caro e não temos muitas algas marrons, pois a água é quente, por isso não quis trabalhar com ele", explica ela.
"Como parte de nossa missão, combinamos o desenvolvimento econômico com o apoio às nossas comunidades costeiras, à indústria da moda, à natureza e à ciência", entusiasma-se Pontes.
De acordo com o fundador, a maior parte das algas cultivadas no Brasil é atualmente processada em bioestimulantes agrícolas, mas a aceitação é limitada e o crescimento do setor de bioestimulantes é lento, o que está inibindo a expansão do cultivo de algas marinhas.
No entanto, ela acredita que, se for capaz de produzir um produto à base de algas marinhas que possa competir com as commodities, isso poderá realmente catalisar o crescimento do setor.
Além disso, como ela ressalta, a Phycolabs pode usar qualquer alga marinha, seja ela uma plantação inteira ou fluxos laterais de algas marinhas que foram processadas para outros usos, o que significa que ela pode ajudar a gerar um bom valor para a maioria das plantações de algas marinhas.
"Podemos usar os resíduos da produção de bioestimulantes de algas marinhas, podemos usar algas marinhas úmidas, podemos usar algas marinhas secas", ela reflete.
"Trabalhamos apenas com algas cultivadas, pois isso garante a qualidade e significa que podemos planejar a produção e apoiar as comunidades de cultivo de algas", acrescenta
Pontes também prevê um acesso abundante às algas cultivadas localmente, graças, em parte, ao clima político favorável.
"O governo brasileiro está aumentando seu apoio à economia azul", observa ela.
O modelo de negócios
Após garantir um amplo financiamento, a Phycolabs planeja estabelecer sua própria fábrica dedicada à produção de linhas, fios e fibras feitos de algas marinhas.
"Ao contrário da maioria dos outros operadores do setor têxtil de algas marinhas, não estamos misturando algodão, nem liocel, nem poliéster. São apenas algas marinhas", ela enfatiza.
De acordo com Pontes, isso pode ser feito usando o mesmo "processo de fiação úmida" que é usado na produção de Rayon e eles já produziram versões de mono e multifilamento de sua fibra de algas marinhas e estão procurando aumentar a escala.
Da mesma forma, ela planeja usar 100% das algas marinhas que compra para fabricar as fibras, embora isso dependa da forma como a matéria-prima é processada. Como ela explica, a start-up desenvolveu vários métodos de processamento diferentes. Nesta fase, estamos tentando alcançar o equilíbrio de massa para tornar a mesma biomassa o mais produtiva possível, tanto no processamento para o fio quanto para outros subprodutos com um bom preço.
Links ausentes
Embora Pontes tenha feito alguns bons progressos, uma grande incógnita diz respeito às propriedades precisas da fibra de algas marinhas. No entanto, com base em sua ampla experiência em têxteis, ela espera que o desempenho seja muito parecido com o das fibras naturais em termos de transpiração, mas que seja mais parecido com o das fibras sintéticas ou artificiais convencionais.
A empresa investirá em breve em um pequeno tear para criar suas fibras em quantidades mais significativas.
"Então poderemos ver suas propriedades, por exemplo, como são afetadas pela umidade e qual é o desempenho na pele", diz ela.
"A ideia é que possamos substituir os materiais tradicionais, não apenas as fibras sintéticas petroquímicas, mas também as fibras artificiais como o Rayon - a cadeia de valor que produz o Rayon é super, super tóxica e é um dos maiores materiais que a China exporta para o mundo e a ideia é que possamos mudar essa cadeia de valor para matérias-primas rastreáveis que não sejam misturadas, para que possam ser recicladas", acrescenta.
Apesar de sua formação em moda, Pontes não planeja produzir nenhuma de suas próprias roupas - pelo menos por enquanto.
"Quando conversamos com nossos clientes, eles querem produzir seus próprios tecidos exclusivos usando nossas linhas", explica Pontes.
De fato, embora ainda não esteja pronta para o mercado, a Phycolabs está cultivando uma "lista de convidados" de clientes em potencial, que recebem atualizações regulares sobre o progresso da startup.
"Muitos clientes já estão assinando NDAs e MTAs e essa abordagem é muito útil, pois as marcas podem nos dizer exatamente quais são suas exigências", diz Pontes.
"O setor de moda é um dos mais poluentes do mundo e está cada vez mais buscando usar materiais novos e mais sustentáveis que possam ser reciclados. As grandes marcas e as marcas de luxo estão dispostas e são capazes de pagar o preço, mas estão preocupadas com a escalabilidade - esse é o maior problema com os biomateriais em geral", acrescenta ela.
Aumento de escala
"No final das contas, tecidos e fios são commodities, portanto, precisamos aumentar a escala, aumentar a escala e aumentar a escala para alcançar um bom preço", enfatiza ela.
Como resultado, Pontes teve que garantir que os produtores de algas marinhas do Brasil tivessem a capacidade de aumentar sua própria produção à medida que houvesse demanda suficiente. E ela acredita que, devido ao curto ciclo de produção e ao rápido crescimento das algas marinhas, isso não será um problema,
"Eles podem cultivar as algas marinhas, com uma taxa de crescimento diário de 6% ao dia, e o ciclo de crescimento é de apenas 30 a 45 dias, em comparação com os 4 a 7 meses do cultivo do algodão", ressalta ela.
Embora a Phycolabs tenha sido criada há três anos, Pontes acredita que 2024 marcou o período mais dinâmico da existência da startup. Eles participaram de vários eventos importantes, como o Biofabricate, o Global Fashion Summit e o Future Fabrics Expo, apenas para convidados. Além disso, concluíram com sucesso o processo de patente da tecnologia, e seu primeiro lote de Phycofiber está programado para ser produzido muito em breve por um laboratório terceirizado no Rio.
"Já estou conversando com empresas de capital de risco e buscando o maior número possível de subsídios, de modo que dentro de um ano teremos nosso próprio laboratório exclusivo e poderemos produzir nossas próprias fibras internamente, provavelmente com uma grande pré-semente", diz Pontes.
"Meu maior desafio é o tempo - os clientes estão me perguntando sobre o produto - e o segundo é o dinheiro. Até agora, fomos financiados por doações, o que é incrível - não houve diluição do patrimônio e não temos ninguém nos pressionando", acrescenta
Pontes planeja construir a primeira instalação da empresa no Brasil.
"A cadeia de valor está aqui, e a mão de obra aqui também é eficiente. Mas, diferentemente dos EUA, há menos cultura de empreendedorismo - as pessoas não gostam de trabalhar em startups porque não podemos pagar tanto quanto em outros empregos, então é difícil manter esse talento internamente", diz ela.
Uma vez que isso esteja funcionando, a ambição de Pontes não tem limites.
"Dentro de três anos, gostaríamos de já estar vendendo e vestindo o mundo com o estilo de algas marinhas", conclui ela.